domingo, 22 de fevereiro de 2015

Inconvenientes II

II. O corpo que cai.

Todos os dias,por volta das onze e meia,eu chegava na mesma mesa da mesma praça de alimentação do mesmo shopping para almoçar,isso faz tempo,foi antes desse tal lugar se deixar levar por incêndios misteriosos e devastadores.Mas isso é um outro conto que por vir está.
Num desses dias,enquanto fingia não saber e escolher o que devoraria,me deparei com o que chamo de "liberalismo burro", política aplicada por muitos pais em nosso belo país.
Aparecia a mãe na velocidade da escada rolante e ,aos poucos, surgiu o filho que aparentava dois anos de nascido,solto,solo e serelepe,saiu da escada caminhando em trote tal como o bêbado que cai,e caiu.Tudo muito normal pra quem aprendendo a andar está,ele ciente,nem choro deu e até sorriso ensaiou enquanto tentava levantar.Abanou-se no chão como quem desbrava esses lados obscuros do mar,eu iria prestar ajuda ao toco de ser mas o riso tomara o controle deste que vos fala,e como ri,gargalhei como a tempos não o fazia,como foi bom,o anjinho sem asa veio para me alegrar.
A mãe lhe puxou e encarou-me com a face fechada,confundia indignação e vergonha,outros populares prestaram um olhar sério,corretivo,mas sabia eu que estavam com um desejo enorme de rir.
A comida chegou,já recomposto,ajeitei o corpo no assento e fiquei lá esperando a próxima desnaturada e seu filho babaca.

Allan Bonfim.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Inconvenientes

I - Velha crônica da mulher traída.

Passa pela porta de entrada,e depara-se com a referida Amélia o aguardando no sofá.Sonolenta,ela o encara,sorri e pergunta:
- Tá com fome,amor? Quer q'eu esquente a comida? 
Ele responde:
- Não precisa,querida,comi na rua! 

E ao longo das décadas, dos séculos e milênios fica constatado que "uma comida" dificilmente terá o mesmo significado para canalhas e donzelas.

Allan Bonfim.