quinta-feira, 26 de outubro de 2017

FICA

Desculpa, mas quero que fique, quero pedir que fique aqui e um pouco mais.
Ainda não compreendo muito bem, mas desejo que fique.
Acomode-se, sente ao lado ou de frente pra mim, e fique, me encare e me pergunte, fale pouco, fale sem parar, faça o que quiser, sorria, quando você não sorri, parece que está sorrindo também.
Não posso lhe explicar muito bem, mas gosto que fique, não é por nada que tenha dito, nem algo que tenha feito, é só porque conquistou meu cérebro e os meus olhos, os viciou com sua presença, sutil presença.
Sua voz tão comum, sua naturalidade em relacionar-se aos outros, que droga, agora toda vez que lhe encontro, só consigo ouvir uma coisa vindo de dentro: Por favor,fique !

Allan Bonfim.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Boi de Piranha

Um passo adiante já me cansa
Quando moço, corria as sete freguesias
E não havia ninguém que me botasse limite
Terra amarela essa da margem do rio
O corpo ardido, furado, meus cortes
Se jovem, um matuto me encarava, era carreira na certa
O moço castiga meu dorso com chicote
O olho chora, eu insisto em gritar, ele me sangra
Lembro minha mãe me aleitando debaixo do cajazeiro
Não sou covarde, mas tenho medo
Na vida inteira nunca dei passo atrás, eu avanço
Gosto de imaginar qu'é como aprender a andar de novo
Chegar aqui é dar de cara com a morte
Minhas pernas já brecaram
O moço me lanha forte com o chicote
Penetro o rio, que sofrimento
Lembro de quase coisa nenhuma de quando nasci
Só senti um aperto, vista embaçada, meu couro molhado
Depois veio a queda,e a poça de sangue,e o cheiro de mato
A língua de minha mãe, não esqueço
Avanço rio adentro, a água pontando no pescoço
Olho rio acima, minha família, grito
A água é só sangue, elas vêm fazer a festa
Sinto o meu couro molhado, e já não arde mais
Sei que pro moço eu já sumi, sinto a língua de minha mãe
E a boiada segue viagem.

Allan Bonfim.



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Mais mas?

A vida é boa, a vida é bela, a vida é sua, é a porra duma colcha de retalhos.

Allan Bonfim.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Carta ao Desamor

Amar não é sofrer, não é se negar, não é escapar e muito menos omitir.
Amar não é fechar os olhos, não é ser egoísta e não é sentir pena.
Amar não é destratar, nem ser indiferente, não é agredir, não é mesmo.
Amar não é nada disso que você pensa, nem muito menos o que você faz.
Amar não é o que você pratica, e nem o que você procura.
Amar é grande, é enorme, e está num lugar muito distante.
Amar é aquilo que você jamais chegou perto, amar não é pra você.
Amar é sentir e ter amor, eu sou o amor e não amo você.

Allan Bonfim.

domingo, 8 de outubro de 2017

Senhora do Tempo

Sobre todos os olhares,as mordidas e prazeres
Sobre a flor e a coruja,morcego e bananeira
Sobre a brisa,sobre a calçada 
Sobre o sexo e a paz
Sobre a morte e o assalto
Sobre o soco e sobre o sangue
Sobre a lágrima e sobre a vida
Sobre o amor e o estupro
Sobre o carinho e sobre a perna na grama
Sobre o calor e a areia da praia
Sobre a cruz e o menino
Sobre o terreiro e a encruzilhada
Sobre a farra
Sobre o vento
Sobre a nuvem
Sobre o mundo
Sobre o ponto de vista
Sobe a lua !

Allan Bonfim.