quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Quem não quer sou eu
Vou ficar a noite em claro sem pegar no sono
Meditando sobre o que de fato aconteceu
Eu até pensei que fosse terminar na cama
Como era de costume entre você e eu
Eu fiz de tudo mas era tarde
Foi o que eu podia dar você não entendeu
Eu quis ir fundo e você com medo
Tirou onda pois agora quem não quer sou eu
É... Quem não quer sou eu
Quem não quer sou eu
Pois é...
E vai a noite, vem o dia
E eu aqui pensando
Um cigarro atrás do outro
E eu fumo sem parar
Da janela eu vejo o trânsito congestionado
No meu peito o coração parece buzinar
Eu fiz de tudo mas era tarde
Foi o que eu podia dar você não entendeu
Eu quis ir fundo e você com medo
Tirou onda pois agora quem não quer sou eu
É... Quem não quer sou eu
Quem não quer sou eu
Pois é...
Seu Jorge , Gabriel Moura , Adriano Trindade.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Trilhos
Allan Bonfim.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Comunicado.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
A Perfeita
A mulher perfeita virá pela rua distraída,
com vestido solto ou calça jeans,
ouvindo a 90,3 e observando os meninos que jogam bola.
A mulher perfeita talvez acorde cedo,mas só talvez,
acredito que ela acorde lá pro meio-dia e almoce com cara de café da manhã.
A mulher perfeita trabalha e estuda,e dança,e se diverte,e sorri,
e dá conta de tudo isso de uma forma que me deixa boquiaberto.
Ela nem sonha com o amor ou algo parecido,acho que nem acredita,
ou é só tristeza passada,vou mudar isso...
Ela odeia animais de estimação,gosta mesmo é dos selvagens,
o tigre feroz e violento,o pássaro arisco,o porco espinho...e tem coisa mais bonita do que o cachorro-do-mato rolando no mato?
Ela é assim,meio branca,morena,negra e amarela e tem o riso engraçado.
A mulher perfeita aparece sempre por aí,por aqui,por acolá e me faz ter certeza de uma coisa:
Quando a gente se encontrar,a primeira coisa que faremos é dar as mãos e viajar sem mapa,nem bagagem,só pra encontrar aquele lugar que ninguém encontrou,a Casa dos Sonhos,na Cidade do Amor,Número 7 da Avenida Felicidade.
Allan Bonfim.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Profundo
É que hoje,senhores,percebi que o amor é navalha,maçarico,medo de alma-penada,garrafa de vidro quebrada,suicídio,novela mau acabada,nível crítico,é o "eu te amo" com eco no nada,é procurar o fim do mundo,revólver com bala engasgada,queda em buraco profundo.
Me puxou pra dançar e bandou,senti e entendi o marido traído,a mulher abandonada,o doce caído e a criança desesperada,o partideiro falecido e o samba na madrugada,o burro que vaga perdido,o tio querido morto lá perto de casa,o olhar da mãe reprimindo o filho,o ônibus partindo e o cansaço do moço que correu até a praça,o sorriso das senhoras que olham o bêbado falido,o gemido que tú dá quando vem e me abraça,quando vem e me abraça e eu fico mudo,algo tem a ver com um sentimento profundo.
E é tão fundo que não se cai no chão,algo feito manteiga sem pão,fruteira sem uva,bossa sem violão,puteiro sem puta,menino bobão,gente bruta,mês de Junho sem "São João" e a festa agostina sem "caipifruta",canoa à deriva no Ribeirão,engarrafamento em dia de chuva,é algo abstrato no meio da rua,no meia da rua vez em quando tropeço e derrubo tudo,me lembro de você,sim,é profundo.
Ando para lá e para cá e não me esqueço dela,vou até a janela,guardo o meu rancor,lembro da faixa amarela que bordou o meu avô,sol me encara pela fresta,me faz sentir calor,repouso na cadeira que é dela,ligo o ventilador,ouço passos na varandela,surpreso não estou,só pode ser Gabriela...perdoo o seu vacilo com o tal doutor,e mesmo estando eu todo fodido,me abraça e me beija com o mesmo sorriso.
Caído,perdido,nu e quase morto de dor,ri e percebi o quão profundo é o amor.
Allan Bonfim.
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Do corredor
Os segredos ao pé d'ouvido,os risos debochados,envergonhados,alegres,e os rostos cansados e enfadonhos,todos vagabundos.
Os bilhetinhos e os gestos,as caretas e imitações,coisinhas de criança sapeca e o sono que chega nos corpos imóveis.
A voz arrastada d'uma professora,d'uma disciplina chata qualquer,suas manias e suas frustrações mais íntimas,tudo...tudo se abafa quando a porta se fecha.
Allan Bonfim.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Do que me interessa
Minha mensagem por ti passe,
minha letra lhe provoque encanto,
minha palavra te abrace,
meu texto na tua mente flua.
Para que assim,tua tristeza e
tua maldade,aos poucos,eu destrua.
Allan Bonfim.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Eu Te Amo
Seu horror me encanta
Minha vida é curta
Minha fome é tanta
Minha carne é fraca
Minha paz é louca
Minha dor é farta
Minha parte é pouca
Minha cova é rasa
Meu lamento é mudo
Seu amor me arrasa
Sua ausência é tudo
Minha sorte é cega
Sua luz me esconde
Minha morte é certa
Meu lugar é onde
Seu carinho é pena
Seu amor é mando
Minha falta é plena
Minha vez é quando
Eu te amo
Eu te amo...
Cacaso e Sueli Costa.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Motorista de sonhos
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Esperança
Essa nova coisa sim,foi um sucesso,e totalmente eficiente em seu objetivo.Ela se arrastou entre os séculos e milênios,motivou nações inteiras,derrubou barreiras e fez cair muitos tiranos.
O nome dela é ESPERANÇA.
Foi num dia da mentira que dois jovens apaixonados,
Vestindo cauda-longa e terno,Juraram amor eterno.
Flor no cabelo e de joelhos,com a bênção do vigário
Foi um dia memorável,tudo estava lindo,
EXTRAORDINÁRIO !
Eles se esforçaram,compraram casa e carro
TV e geladeira,nova casa,uma beleza.
É numero sete da ladeira,quem sabe a ladeira?
Quem sobe a LADEIRA?
Só porque comprou um novo varal de arame.
Agora quer tudo de aço prateado,
Inoxidável é a nova moda do momento,
No fundo é tudo desculpa pra não enferrujar o CASAMENTO.
A vizinha é portuguesa,o corpo uma beleza.
Seu Zé da padaria,na farmácia,O Garcia,
O olhar desvia por malandragem.
O Pereira,de voz arrastada,diz a verdade:
Portuguesa na ladeira é UNANIMIDADE.
Entendendo bem a coisa,a antes noiva e agora esposa.
Pra salvar o casamento recém-nascido,sugeriu MUDANÇA ao marido.
E lá vai o casal se mudando de pirraça.
A portuguesa,irritada:
Vão morar perto da PRAÇA !
Descem ladeira,TV e geladeira,e quase sem freio,
A carreta engata a primeira.
A casa de lá tem mais espaço,mais ar livre.
"E mais coisa pra limpar,Deus me livre"
A casa dali,tem visão pro chafariz.
"E passarinho na janela,o lugar q'eu sempre QUIS"
Decisão tomada,lugar novo pra morar,
Com cozinha encolhida e sala alongada.
Área,quarto,banheiro e amarelo na fachada,
Sem portuguesa gostosa ou lavadeira pra INCOMODAR.
Agora é cuidar do trabalho e dos filhos que vão ter,
Pois tempo é o que não lhes falta,nem TV ou geladeira.
Dinheiro,batalhando juntos,vão fazer.
Superaram a ladeira,só lhes falta a vida INTEIRA.
Allan Bonfim.
terça-feira, 14 de junho de 2011
À Nêga
Eu lembro daquele tempo que não é muito distante,mas já é tanto ausente que dá saudade.Lembro da gente sambando e deixando a gente do bar admirada e sorridente,aplaudindo,pensando que sabíamos dançar,besteira né,nêga? ...a gente só sentia a música e "balançava o esqueleto" e era tão fácil e bonito que parecia uma escola de dança em praça aberta.
Nêga,hoje à noite no meio da aula,eu olhei pela janela e quis ver você,sabe? ...lá fora,me chamando,me tocando o telefone pra fugir,pra escapar contigo pra esses lugares distantes que só você conhece.Eu sinto falta de você,e só você me dizendo pra parar de tomar as coisas do mundo como algo pessoal e hostil,me dizendo pra parar de fumar,dançando e sorrindo pra mim.
Sim,porque agora q'eu não te vejo mais,continuo levando tudo como pessoal e hostil,e se alguém sugere q'eu pare de fumar,eu penso na maioria das vezes:"vá tomar no cu,fumar é bom pra caramba,não pro pulmão,mas pro momento".E também porque,nêga,um monte de gente sorri pra mim,mas ninguém dança igual à você,alguém nem chega perto.
Caramba,eu tô com uma saudade IMENSA guardada no bolso esquerdo daquela minha jaqueta jeans de cheiro horrível,nêga,eu tô "trash" sem tú.Eu sei que "isso tudo é muito louco,e a viagem é perigosa",mas eu apronto a minha mala,ponho o pé na estrada e só paro no hospício se for com você.
Ah,minha nêga,tú não sabe,mas nuns dias atrás me bateu uma gripe bem forte,dessas que tiram o sono e todas as vontades,inclusive a vontade de sorrir,eu pensei que ia morrer no sofá,aí me tranquei no quarto e pensei num monte de coisa e em você,pensei em deixar uma carta.Peguei papel e caneta,sempre "à caneta",e tentei começar alguma coisa,uma despedida,qualquer coisa,mas acredita que não saía nada?! ...sacanagem,eu pensei.Uma pessoa que gosta de escrever sempre espera que,pelo menos num momento tão mórbido,possa sair algo poético,ao menos lindo,ilustre,mas nada me saiu,ficou tudo preso por causa daquela gripe.
Os pulmões estavam entupidos,e as emoções mais ainda,me faltou o ar,respirar,inspirar,inspiração,sabe? ...mas a gripe passou,eu melhorei,ficou tudo como "mais um drama exagerado",aí hoje decidi escrever sobre você,e sobre o que eu sinto por você,essa coisa linda q'eu não sei o nome,que não é amor,nem paixão,porque não foi acelerado e nem tão lento,não ardeu e nem doeu,não me fez chorar e nem rir,foi algo alegre e talvez até tão corriqueiro quanto dar comida aos pombos na praça.
O que eu sei é que sinto falta e saudade disto,de você e das suas falas,suas piadas,críticas e seu blábláblá diferente de tudo que escuto o dia inteiro.Na verdade acho que o objetivo disto é só te informar que "foi bom pra mim",mas isso cê já sabe,eu já disse,então vê se aparece.
É sempre quando passo em frente ao teu portão,
Voltando de algum lugar,nêga.
Aí então,olho pela janela e vejo tua silhueta,
Mas você,que tá sempre vendo TV,ou falando ao celular,
Nem me vê passar,nem me vê olhando pra janela,chamando teu olhar.
E quem olha pra lá,apenas vai notar seu cacheado dourado,loiro e lindo.
Que não me deixa mentir,nem ocultar.
Nêga,é só meu jeito carinhoso de te chamar.
terça-feira, 7 de junho de 2011
O Terceiro Quarto
Tinham também um bonito sedan,carro de gente casada,pra caber as malas e,mais pra frente,as criancinhas bonitas,saudáveis e normais que pretendiam ter.Tinham até um quadro do Ubirajara na parede da ante-sala,que retratava uma paisagem muito linda e um lugar que não se vê mais.Era um campinho que no centro tinha um lago,cheio de patos n'água e pássaros voando pelo céu,totalmente abstrato no mundo moderno,sabe?
Na cozinha,todo o jogo de panelas e a louça que ganharam de presente no casamento.O banheiro tinha azulejos preto-metálicos,uma coisa brilhante,linda de se ver e muito difícil de limpar.
Na sala enorme,três sofás,uma cortina importada de tafetá,mesa de centro,de canto,de cartas,era muita mesa e a grande TV de plasma que,encerrava junto com a estante de madeira maciça a arrumação do lugar,tudo com a assinatura da mulher.Ele só cuidava do cachorro e do jardim.
A casa tinha no seu total,3 quartos.O primeiro quarto,em relação ao tamanho,ficava lá em cima,era o quarto do casal e ficava na segunda porta à direita depois da escadaria,tinha até banheiro dentro,já o segundo,ficava ao lado oposto deste e,como ainda não tinham as crianças bonitas,saudáveis e normais,este servia então como o quarto de hóspedes,o que não lhe tirava a beleza e o cuidado.Ela mandou pintar uma das paredes com tinta grená,as outras fez questão de deixar brancas para assim absorverem um pouco da cor mas não perderem a luminosidade do dia,o resultado foi bem legal.
Descendo a escadaria,linda escadaria com corrimão desenhado em madeira e com forma do couro de uma jibóia,via-se o terceiro quarto.Era um pouco escondido,abafado pela escadaria,sua porta nem se fazia notar por quem não fosse observador.A porta vivia sempre trancada,o lugar também não era atraente,foi deixado então pra guardar velharias e as coisas que não tinham sido ainda desempacotadas desde a mudança,era lá que estava também entre algumas caixas,um aspirador e um rádio velho,o filho retardado que nunca ousaram contar ou mostrar à ninguém.
Allan Bonfim.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Minha Senhora
Ela cuidou bem dos seus filhos,ela cuidará bem dos filhos que estão por vir,e ela me dá conselhos e me diz que tô errado,ela sempre diz que estou errado e grita.Ela chora e é escondido pra eu não ver,ela chora no meu ombro e ao telefone,ela fala sozinha e gosta de animais,ela não gosta de cachorros e queria ir ao cemitério,às vezes me dá medo,ela nunca me dá medo.Já faz algum tempo que ela foi embora,já faz algumas horas que há vi pela última vez mas o que não esqueço é de como é boa a sensação de deitar a cabeça sobre o seu colo,como é bom o seu colo.Ela tem a pele clara,já foi chamada de palmito,ela é morena,e é negra,é um bombom,ela parece amarela.Ela acabou de me ligar,ela nunca me liga mas sei que,se de repente,eu sumir,ela vai ficar preocupada.
Ela é minha tia,ela é minha mãe,é minha irmã,minha amiga,minha amante,é meu amor,ela não pode ser definida porque ela é todas elas que passaram por toda a minha vida,até aqui...até aqui.
Allan Bonfim.
terça-feira, 24 de maio de 2011
2 anos de E.C.,por Tico
O "espaço 'cabeludo" nasceu de um pedido meu ao Allan.Eu,Ticoético,procurava um jeito de me sentir bem e me mostrar para os outros,libertar pensamentos e enfim criar forma de algum jeito,sem ser só uma "faceta" qualquer.A minha história começa muito antes d'eu nascer,como a de todos vocês.
Tudo começou numa madrugada friiia e nebulooosa...não,não,é brincadeira.Tudo começou quando a "irmã mais nova" do Allan criou o "Dolce d'água" que era um blog "undefined" e depois foi virando um blog "calcinha",agora,passado tanto tempo,está uma "calçola rendada".O Allan viajou ao ler os primeiros posts,e eu,vi naquele deslumbramento a minha chance.Nascia então "Ticoético",de início,o cara lá dizia que o significado era "Tico ético",mas depois o tempo foi passando e mostrando que,na verdade,"Tico é Tico" somente.
Criei então no dia 21 de maio de 2009,o espaço 'cabeludo,sim,EU criei,pois o Allan pode levar o mérito pelo romantismo,pelo sarcasmo,enfim,até por ter me criado,mas o espaço 'cabeludo e todo o leque de significados que vem com este nome,só existe porque EU criei.
Aos poucos,com as loucas cores,o visual retrô,as imagens de borda e a benção de Drummond de Andrade,outras pessoas foram chegando por aqui e dando pitacos,contando suas histórias e me fazendo um pouco mais feliz e livre.Lembro de uma certa vez que houveram tantos pitacos e gente por aqui,que me senti num barzinho lotado no qual todo mundo me conhecia e,mesmo eu não sendo o "cantor",sabiam que eu era o "cara do som" e mostravam reconhecimento por isso,eu chamo de "A época molhada",por outro lado,houve uma vez em que o Allan desapareceu e agonia me bateu,pois assim como o "cara do som" precisa da voz do "cantor",eu preciso dos textos dele,ninguém passava por aqui,achei que ia desaparecer,mas ele voltou,chamo isso de "a época da seca".
Hoje o E.C. tem 52 seguidores entre gente que veio e voltou,gente que gostou e decidiu acompanhar de longe,tem também gente que é ativa,e fala,me emociona,me aplaude,tem gente que corrige os erros que o Allan comete,e eu agradeço,serve pra mantê-lo atento.Mas o q'eu gosto mesmo é de interagir com quem vem de lá do outro lado,pode ser daqui de perto ou de outro estado,outro país,outro planeta.A graça do blog está em se ver nas palavras dos outros,se identificar,traduzir-se mesmo em outra língua,português,alemão,inglês,francês,eslovênio,japonês,NÃO IMPORTA,a gente se entende porque é gente,é claro que tem o dedo do "Google Tradutor" no meio,mas a INTERPRETAÇÃO é toda nossa,a INTERAÇÃO é toda nossa,e é o que vale.Juro que trocaria todos os 52 seguidores por 52 comentários em uma publicação,52 duas opiniões sobre alguma coisa,52 modos diferentes de ver o amor,a felicidade,o futebol,enfim,o mundo.Mas não trocaria por nada,tudo que conquistei e aprendi com o espaço 'cabeludo,pois isto é algo que não se pode roubar,nem copiar ou falsificar de tão especial e legítimo que é,só se pode viver,enfim,PARABÉNS AO ESPAÇO 'CABELUDO.
Ticoético.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Sobre o Ninja
Pensamentos assim,geralmente são reflexos criativos da minha mente,ou seja,primeiro ela solta algo no ar das lembranças,pode ser uma palavra,um objeto,uma pessoa,um lugar,qualquer coisa,depois deixa aquilo rolando na minha cabeça como uma música ou coisa parecida,por fim ela não sossega até que consiga obrigar as duas mãos minhas a escrever sobre aquilo,nesse caso,a bola da vez foi o "NINJA".
Nunca tinha pensado antes em escrever sobre o Ninja,principalmente porque sempre pensei que um Ninja jamais poderia render uma/numa história.Até nos filmes,ninjas são figurantes,eles são quem chega no meio da noite descendo cacete em alguém ou roubando algo divino e valioso e depois,puf,desaparecem,ou vão embora,ou morrem lutando soltando seus gritos duvidosos.As histórias são sempre sobre os "samurais" ou os "gladiadores",sempre tem um escolhido e tal,os ninjas são meros figurantes obrigados a pular e gritar e sair de cena rapidamente.
Não sei você,mas pra mim,um Ninja nem é gente,sempre com os panos a cobrir o rosto mostrando muito mau os olhos,duvido até que eles tenham rosto.Um Ninja não tem casa,não tem trabalho,não tem filhos,não beija,não come,não tem ninguém esperando por ele.O Ninja não tem família,ele é apenas Ninja.
Poxa,pensando bem,deve ser triste ser um Ninja,falo de ficar esperando a noite chegar pra atacar,ter um pouco de ação e bater em alguém.Imagino ainda mais,deve ser muito chato quando não há nada pra fazer,nenhum manuscrito pra pegar,nenhum mocinho pra bater,passar a noite toda sem ferir ninguém com a espada ou dar um "grito Ninja".A coisa mais tediosa na vida - se é que eles têm vida - de um Ninja deve ser a parte do dia.Eles devem ficar no "mundo dos Ninjas" onde tem Ninja pra todo lado,treinando e treinando,sem dizer uma palavra,sempre a esperar o próximo ataque,porque um Ninja sempre está pronto,eles não sentem falta ou saudade dos que não voltam,não tão nem aí,são firmes e sem sentimentos...ou não.
Pode ser que,no mundo dos Ninjas eles até falem,e se cumprimentem,aí eles se reúnem e ficam contando quantos mataram hoje com a sua espada e inventam novas táticas de ataque,novos movimentos,e até fiquem sentidos se um amigo Ninja não volta.Eles podem ter esposas Ninjas que ficam rezando com suas crianças Ninjas para que o marido volte de manhã,deve ser lindo um bebê Ninja,quieto,sorrateiro,completamente silencioso.Que bobeira a minha,deve ser bom demais ser Ninja,pular entre telhados como um gato,ser rápido sem se cansar,fazer parte do escuro,ser sutil,elegante e eficiente,forte e preciso.
O que me deixa espantado na maioria das coisas que escrevo,além do prazer que dá ver a coisa feita,é o fato d'eu me alongar por entre as linhas,enquanto escrevo tudo parece tão objetivo,sucinto,mas quando leio,lá está um "testamento".Só por algumas vezes eu queria escrever alguma coisa como este copo de suco,uma coisa breve,mas que mata a sede,é geladinho e é gostoso de beber,é tão bom que quando acaba,não se percebe,deixa o gosto na boca e dá vontade de repetir.
De acordo com o computador eram 4:37 quando fui buscar mais suco na cozinha e ouvi um barulho no quintal.Abri a porta que dá pra varanda,num movimento rápido olhei as roupas no varal que acabavam de balançar sem vento algum,e ainda escutei algum barulho sobre o telhado da vizinha e seu cachorro a latir,fechei a porta,peguei o suco e sorri,deve ser bom demais ser Ninja.
Allan Bonfim.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Ao Menino Brasil
Vai pra ti que já foi tal sacaneado,e ainda é
Vai pra ti quando sorri,mesmo pouquinho,e pensa que é feliz
Vai pra ti sendo mal visto lá fora,rá
Vai pra ti Menino,que nem se importa
Vai pra ti e sua vasta cabeleira de norte à sul que já nem é tão vasta assim
Vai pra ti e seus lugares frios,seus medos e rios
Vai pra ti e sua fina pobreza
Vai pra ti e toda a chuva que molha a porção seca e te amacia
Vai pra ti que é espaçoso demais pra caber em um simples continente
Vai pra ti nos dias sangrentos e infelizes de toda a sua história
Vai pra ti,suas garrafas vazias e seus cigarros apagados
Vai pra ti e suas belas e belas mulheres
Vai pra ti e àqueles preconceitos não vencidos
Vai pra ti e sua populosa solidão
Vai pra ti e,principalmente,todos os personagens que abriga
Vai pra ti que é destruído pelo progresso
Vai pra ti que é mastigado pelo futuro
Vai pra ti e seus heróis e mocinhos
Vai pra ti e suas praças,e seus meninos
Vai pra ti,que é um menino
Vai pra ti que é velho e grande,mas um menino
Vai pra ti que nem sabe,nem nunca viu
Vai pra ti,Menino Brasil.
Allan Bonfim.
sábado, 30 de abril de 2011
Se Foi
É um dos meses que eu menos gosto,pra ser exato,é um dos dois meses que eu menos gosto.Já houveram "Abris" que me tiraram grandes amizades,outro me roubou um grande amor.Houve um que precedeu a maior tragédia da minha vida,não quero fazer drama algum,somente um desabafo.
Confesso-lhe que entrei neste Abril,com um colete à prova de balas,olhos fechados e um taco de beisebol na mão,sim,tenho medo,tenho tanto medo que se me perguntassem: "qual a coisa que você mais odeia no mundo e a que você mais tem medo?" eu diria "ABRIL" de bate-pronto.Ontem eu estava até pensando em comprar champanhe pra comemorar após às 23:59 do dia 30.
Curiosamente este Abril não me foi tão malvado,nem triste.Tivemos,é claro,tristezas,mas estas foram coletivas,pra mim não foram diretas.Tivemos crianças mortas por um louco,tivemos enchentes,políticos marcantes que morreram,sem falar no medo de um novo acidente nuclear,mas,particularmente este Abril me foi muito bom.Eu pude descobrir faces ocultas,ganhei alguns afetos que não esperava,desfiz brigas antigas e até na amada blogosfera tive a volta da mais-que-querida Cynthia.Ah,como foi bom esse Abril.
Sei o que ainda espero,ainda me falta aquela moça,aquele livro,aquele entendimento,mas tenho quase certeza,aliás,tenho TOTAL certeza que consigo tudo isso ainda neste ano.Eu tenho receio é por tudo aquilo q'eu não tenho controle,bombas a estourar e guerras a fazer,mas de Abril nada reclamo,estou satisfeito,olho curioso os oito meses que faltam,fecho as mãos e digo:
- Amém.
Allan Bonfim.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Precoce
As rugas vão se fixando e a pele vai ficando fina,frágil.O raciocínio não é mais rápido e o que dirá da memória,são tantas lembranças a dar conta,e tantas que se perderam junto à juventude e inocência.
Os ossos doem,as dores de cabeça são também cada vez mais constantes,os remédios não curam as dores que lhe deixaram seus amores,o olhar permanece morno com a visão falha,e assim,só tem olhos para a lua,suas idéias não são para esta época,o cabelo vai indo embora pelo caminho deixando entradas pela testa,e pensar que são só dezoito anos.
Allan Bonfim.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Alô,princesa ?
Myrella Andrade.
terça-feira, 5 de abril de 2011
O Sonho
Allan Bonfim.
sábado, 26 de março de 2011
O Romancista
Estava lá sentado em sua cadeira velha,apoiado numa escrivaninha velha que ele insistia em conservar na mobília,apesar do tempo.Tinha a frente um caso difícil de lidar,talvez o mais desafiador de seus trabalhos.Ele,escritor de tantos poemas,poesias e novelas,de repente deu de cara com esta história que lhe fugia,lhe escapava ao seu comum,ao seu gosto.
Era a história de "Natália e Marcos",aparentemente eram um casal comum de jovens,que não fugiam ao script de um romance,pois,eles se apaixonaram loucamente,trocaram emails,que seriam as antigas cartas,ele lhe presenteava com flores e lhe dedicava canções ao pé de um "Karaoquê",que seriam as antigas serenatas,eles noivaram e fizeram planos juntos como os outros casais apaixonados,sobre quem ele sempre escreveu.Porém tudo mudou,aconteceu um pouco depois que ela se formou na faculdade e ele conseguiu sua primeira promoção de cargo.
Eles se casaram,foi aí que o Romancista se viu desesperado,pois ele começou a ver coisas que não eram comuns em romances de sua autoria,algumas ele até fingia não ver,pensava que poderiam ser coisas da nova época,reflexos corriqueiros de uma gente nova,mais "liberal",e o tempo foi passando,ele escrevendo sobre as constantes brigas dos dois,sobre o caso que Marcos mantinha com a recepcionista da empresa,sobre a tristeza de Natália que sabia de tudo mas calava pois no fundo ainda amava,ou pelo menos,assim acreditava o Romancista.
O tempo passou e,de uma rara noite romântica dos dois,nasceu Isabela nove meses depois.A vida parecia estar acalmada e resolvida,alegria para o Romancista,se no aniversário de sete anos de Isabela,Natália não tivesse conhecido Henrique,primo de uma de suas amigas,se Marcos não tivesse retomado o caso com a antiga recepcionista,agora secretária particular.O Romancista estava triste,descrente e arregalou os olhos quando viu o que tinha escrito naquela linha que foi decisiva para a história de "Natália e Marcos" e para sua própria história.
"Marcos passava por uma calçada voltando do horário de almoço quando,de relance,olhou em direção a vitrine de um restaurante e viu Natália e Henrique,a trocarem olhares,carícias e,enfim beijos.Marcos continuou a caminhar em direção ao prédio onde trabalhava,mas carregava um olhar de ódio e tristeza.Conversou com sua secretária e amante,que lhe chamou um homem misterioso,de capa.Ficaram os três dentro da sala por uns cinco minutos,o homem saiu apressado".
O Romancista,boquiaberto com o que escrevera,permaneceu com a caneta por sobre o papel,parada.Estava curioso e,ao mesmo tempo,receoso sobre o que aquelas linhas ainda tinham por revelar,continuou então sua escrita.
"Ás dezoito horas,horário da saída de Marcos,o homem de capa apareceu com um embrulho volumoso,o qual ele entregou à Marcos que lhe deu um bolo de notas aparentemente contadas.Marcos acompanhado de sua amante,pronunciou a seguinte frase:
- Grava bem esse dia,porque hoje,morre a Natália pra mim,só há a Isabela."
O Romancista não podia crer naquelas palavras que saiam da sua caneta,seria um revólver o que trazia o homem da capa?
Teria Marcos,comprado tal arma para dar fim a vida de sua esposa,a mãe de sua filha?
O Romancista entrou em pânico e cometeu seu segundo erro naquela história,o primeiro foi escrever Henrique como um abono pra Natália por ser traída por anos.Este foi ainda mais grave,escrevia um revólver sobre a mesinha de centro,seria então,um modo de Natália se defender daquela armadilha que Marcos estava prestes a fazer,mas no hora do desespero,se esquecem os detalhes,e era detalhe que o dia em questão era uma terça feira,dia que,enquanto Natália se divertia com Henrique,Isabela chegava em casa trazida pela mãe de uma de suas amigas da natação.
O Romancista perdido entre medo,pânico e desespero,cometeu o terceiro erro,o que selava todos os cometidos e ditava por si só os que viriam a acontecer.Escreveu a si próprio,transferiu-se para a história e chegou bem antes que Isabela.Só havia um problema,uma vez dentro da história,ele passava a ser um personagem,e portanto,não mais podia controlar ou saber do que acontecia fora de sua cena.Não sabia então,que a mãe da amiga de Isabela,aprontou para a filha uma festa surpresa,na qual Isabela estava presente naquele horário.
"Marcos abre a porta do apartamento e fica surpreso por estar destrancada,pensa então que Natália está,mas,ao chegar na sala encontra um senhor de aparência bem abatida e cansada,ele logo pensa em chamar a polícia,o velho porém,lhe diz que sabe sobre sua vida,sobre sua mulher,sua filha e sua secretária.Marcos fica desconfiado,mas continua com a idéia de chamar a polícia,o velho então saca um revólver e acusa marcos de ter comprado uma arma para executar sua mulher.Marcos,agora nervoso e com medo,tenta explicar ao velho que há um engano,e puxa o embrulho volumoso de sua valisa,mas o velho está desequilibrado e atira em Marcos duas vezes,que cai sem jeito e morto no chão,junto ao envelope volumoso que se abre,mostrando fotos de Natália e Henrique e ainda uma fita de vídeo que ele comprova ser também dos dois.Na valisa,ainda tinha alguns papéis que seriam de divórcio.Logo se escuta uma correria por todo o prédio,o velho vê Natália à porta com a face surpreendida e só.
Tempos depois acorda na cela de uma cadeia,e tem uma parede cheia de bilhetes que ele mesmo escreveu,todos com a mesma mensagem:
Reescreva-me e apague-a,
Para quem ler o caderno.”
É claro que ele só passou a escrever tais coisas,depois que viu o que tinha feito,percebeu que no seu julgamento não foram citadas fotos ou fitas de vídeo,percebeu que Natália tinha um semblante despreocupado,e principalmente,percebeu quem era Natália de verdade em um dia de visita,quando,de frente para ele,através do vidro,ela escreveu:
“Obrigado pela minha história”.
Surpreendeu-se com a mensagem,surpreendeu-se com a Natália que estava à sua frente,que criara,e surpreendeu=se com a base da mensagem,era um papel pardo,era o envelope,o mesmo usado no embrulho volumoso que continha as fotos,a prova de sua traição,tais provas nunca foram encontradas,pois assim como aquela mensagem que só o velho leu,todo o resto foi queimado.É claro que o os bilhetes do Romancista se dirigiam a mim,mas eu não poderia obedecer às ordens de um,agora,louco.Deixei que o tempo passasse e o Romancista aprendesse com seus próprios erros,afinal,quando se escreve um romance,não se deve manipular seus personagens e sim deixar que a história corra naturalmente,deve-se apenas dar a ela,início meio e fim,e foi o que eu fiz quando rasguei a maldade de Natália e escrevi:
"O velho louco que assassinara Marcos,foi condenado a prisão perpétua,mas por seu estado,passou seus últimos dias de vida em uma clínica psiquiátrica.A viúva,que herdou todos os bens do falecido marido,foi amparada por Henrique com quem mais tarde se casou e teve mais um filho,João.Dizem que eles foram muito felizes até a sua morte."
Allan Bonfim.
terça-feira, 15 de março de 2011
Sertãozinho
Ás nove horas,Sinhô Marcílio passa trazendo o vestido verde e desbotado de velho,com tanto remendo que Sinhô nem cobra mais pra costurar.Ela corre no terreiro,bota na cara um sorriso e levanta poeira na correria.Pega o vestido,agradece e entrega o pão de batata que o pai faz,orgulhoso não aceita nada de graça.Sinhô Marcílio se despede,mão na ponta do chapéu e olhos nos peitos da mocinha.
A mãe lhe recebe com um tapa por levantar poeira,rosto franzido de raiva passageira,coisa de filha,ela veste a roupa verde e velha e pede ajuda a mãe.O pai fica lá fora,nessas coisas não se mete,vai fingir cuidar do cachorro e fica chutando de leve,o animal acostumado a "bicão",acha até que aquilo é carinho.
- Demora,sô ! resmunga o pai cansado de fritar embaixo do sol.
A mãe abre a porta e a única janela da casa,a mocinha tá pronta com a palha envolta na cabeça e nas pernas,a flor presa no cabelo e o vestido velho,e ainda acha que está bonita,e até estaria,se não fosse a palha,a flor e o vestido,assim mais parece um espantalho de jardim.A mãe lhe sorri,o pai abraça e dá a "bença" à filha,que sai correndo pela estrada levantando uma poeirada danada,não sem antes se despedir do cão com um chute monumental,vai sumindo ao longo da estrada de barro,cantando:
quarta-feira, 9 de março de 2011
Pra Tudo Se Acabar Na Quarta-Feira
Que foi inspiração
Do poeta é o enredo
Que emociona a velha-guarda
Lá na comissão de frente
Como a diretoria
Glória a quem trabalha o ano inteiro
Em mutirão
São escultores, são pintores, bordadeiras
São carpinteiros, vidraceiros, costureiras
Figurinista, desenhista e artesão
Gente empenhada em construir a ilusão
E que tem sonhos
Como a velha baiana
Que foi passista
Brincou em ala
Dizem que foi o grande amor de um mestre-sala
O sambista é um artista
E o nosso Tom é o diretor de harmonia
Os foliões são embalados
Pelo pessoal da bateria
Sonho de rei, de pirata e jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
Mas a quaresma lá no morro é colorida
Com fantasias já usadas na avenida
Que são cortinas, que são bandeiras
Razão pra vida tão real da quarta-feira
É por isso que eu canto
Martinho Da Vila.
sexta-feira, 4 de março de 2011
Retalhos De Cetim
Comprei surdo e tamborim.
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria.
E ela jurou desfilar pra mim
Minha escola estava tão bonita.
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim.
Mas chegou o Carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei.
Não pensei que mentia a cabrocha que eu tanto amei.
Benito Di Paula.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Vida
Às onze,geralmente eu chegava e ficava estacionado frente o portão cinza e de formato antigo da Florêncio de Melo,número sete.Era alegria quando de lá de dentro como num passe de magia,surgia,com ar alegre aquela linda moça da pele lisa,voz macia,corpo leve como em comercial de sabão em pó ou margarina.Aparecia e ora vinha com mil perguntas que eu respondia calmamente enquanto lhe contava o meu dia,ora calada,me dava um beijo e sorria,que agonia,eu sentia até um frio na barriga.Entrando em casa,ora me puxava ao sofá e de beijos me enchia,festa fazia,ora me abandonava pela sala e pra cozinha corria e falava,falava,falava...enquanto a comida,até então desconhecida por mim e por ela esquecida,queimava,queimava,queimava..
E até que era bom o queimado,trazia aquele amargo esperado que antecedia a discussão inevitável sobre a vida de casado,bla,bla,bla,blé,blé,blé,deve ser "coisa de mulé",essa coisa de implicar com qualquer coisa.Fala e fala,depois se cala e me encara,e eu ficava lá,com a cara,a coragem e a comida e enchia a boca,pra não lhe deixar saída ou pergunta a fazer,e sem nada a fazer,fazia o que todo ser-humano faz,ia assistir tevê.E mesmo assim continuava a me encarar subitamente enquanto eu lhe negava o olhar sem muito sucesso,não resistia,e de relance ela ria,eu estava ali olhando,pensando,olhando,pensando...como aquela linda criatura veio a ser minha,e me ver com satisfação,me precisar com necessidade,sentir felicidade em estar junto por mais um verão,e no sofá assistindo o Jô,me beijou e implorou pela cafeteira nova que mais tarde ganhou - "cafeteira,ora veja" - como pode se dar satisfeita e feliz apenas por uma cafeteira?
O filme começa e ela já boceja,eu,confortavelmente desconfortável,deixo servir de apoio para o seu corpo no sofá duro e morno - "café? precisamos é de um sofá novo" - é inevitável não olhar para o sono recém-chegado que a domina,e lhe inclina a cabeça para trás como um jovem "nenê" lutando contra o próprio sono e impotente até para controlar o tronco.Então eu a agarrava e a levava,e como o mesmo nenê ela sorria de olhos fechados,sorriso,característica mania,só aí a entendia.
Ela.
Colocava a lasanha no forno por volta das dez,arrumava a cozinha,o quarto,lavava os pés,botava pra fora o lixo,trocava o sapato,sentava e descansava,tava tudo arrumado,sabia e aguardava porquê,lá pelas onze,enfim ele chegava e estacionava frente ao portão,como visita ou um desconhecido,soltava um sorriso tímido e medroso,eu lhe abria o portão,ele retirava a mão do bolso sempre com alguma surpresa,um bombom que seja,dava-lhe um abraço,ele me beija.Lembrava nosso tempo de boemia (só terminávamos a noite quando o bar era "casa vazia") .Aí eu entrava em casa e se estivesse sem nada a fazer,com ele fazia,no banheiro,quarto,sala ou cozinha,esquecia até da comida ou da vizinha que,"ocasionalmente",tudo ouvia.Depois sentávamos à mesa,ora "tudo beleza",ora uma dureza,a discussão começava e como em toda briga de casado,eu falava e ele ficava calado,sentado,como se nada estivesse acontecendo,comendo,comendo e comendo,parecendo conhecer bem sua esposa,sabia que mulher implicava com qualquer coisa.Sentava no sofá e era eu o encarando e ele desviando o olhar,totalmente sem sucesso,de vez em quando,confesso,me assustava quando ele fixava o olhar em mim - "o que pensaria o moço da roupa de cheiro carmim?" - Não queria realmente saber,o rapaz estava ali,eu sabia,para me proteger,me gostar,acariciar e socorrer pra todo tipo de necessidade,era gostoso fazer de todo dia o nosso céu e inferno,melhor ainda a alegria de estar junto por mais um inverno.Acabava de jantar e deitava comigo no sofá,fez cara feia quando pedi a cafeteira,sua posição era desconfortável mas se ajeitava de uma maneira bem agradável (para mim),era simplesmente amável sua preocupação,então envolta em suas mãos,grandes mãos,eu me sentia a pessoa mais segura do mundo naquele momento,sim,era um absurdo,porém era uma grande fortaleza aquele sentimento,esquecíamos o que estavámos vendo,fosse o Jô,fosse o jogo - "precisamos de um sofá novo" - ele diz,eu concordo e acordo do cochilo que tirava,ele brinca - "tá de baba" - eu cochilo,mau consigo levantar os cílios,enfim meu pescoço deixa cair a cabeça sobre seu braço e,ao pé d'ouvido,me sugere um amasso,um completo safado,eu rio e tento afastá-lo até cair em sono profundo,ele fica mudo,aí então sai do sofá e vai não sei para onde,como essa gente que se esconde,e como foi,volta.De repente,desce uma mão quente,que me suspende como a mão da mãe na praça que embala seu belo "nenê" com calma e graça,eu rio,ele vai pro quarto me levar,só aí é que entendo todo o seu olhar.
Allan Bonfim.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Mariana
Ao chegar no meu andar vejo que ainda é cedo pois metade dos funcionários ainda não estão.Me recolho então à minha sala e lá fico por uns trinta minutos até começar a ouvir o "bla,blá,blá" e o "tititi" do lado de fora.É sempre a mesma coisa,chega o Pacheco falando mau do Renato que não gosta da Dona Cida que apóia o Pacheco e dá mole pro João que é caído por Sílvia que odeia o Pacheco e reclama com o Renato.Tudo igual,e eu lá no computador vendo as estatísticas de vendas,espero mais uma hora,observo o relógio e vejo que,o que eu já previa,poderia se cumprir,ela não vem,saio da minha sala,dou uma volta pelos corredores,digo "olá" ao Pacheco e peço a Sílvia que me mande algumas notas fiscais,volto a minha sala para pegar alguns papéis e dar início a reunião que tratará da nomeação dos cargos de sub-gerência,gerência e diretoria.Deixo algumas folhas caírem do envelope,junto com as demais,uma lista me chama a atenção,é a lista de possíveis nomes e critérios que ela me fornecera,lembro que passamos uma noite acrescentando e eliminando nomes,a folha ainda tem o seu perfume,de repente escuto alguém batendo à minha porta,com uma batida característica,sim,é ela.
Ao me levantar despreparado,quase caio,ela está linda,soltou o cabelo,escolheu um tom mais escuro de batom,usa uma blusa com decote em "V" junto com um colete e uma saia que termina antes dos belos joelhos,se equilibra com destreza em um sapato de um alto salto,tudo em tom meio avermelhado.Tem na face um ar altivo como nunca vi antes,me golpeia com um frio "bom dia,Sr. Santiago" e me pergunta sobre a reunião,com uma objetividade que me incomoda.
Logo depois de saber que a reunião já vai começar,se vira,e lá vai ela pelos corredores levando olhares,desejos sórdidos,gemidos retumbantes e todo o meu coração até a sala de reuniões.Logo a reunião começa respeitando os padrões de pontualidade da empresa e de Mariana,todos os "cabeças" da empresa estão presentes,sento em minha cadeira,a da cabeceira,e observo Mariana executar o discurso de introdução à reunião,estão todos quietos e voltados para lá como hienas olhando um suculento pedaço de carne,ninguém dá um "pio" durante a reunião,ela sabe chamar para si a atenção e mantê-la por quanto tempo for preciso.
Ao serem anunciados os nomes das Sub-gerências,gerências e diretorias todos riem e aplaudem Mariana pouco se importando com quem vai ou quem fica,como se naquele momento existisse apenas ela,não se importa o Renato de receber ordens de Dona Cida,não se importa o João de ficar longe de Sílvia,pois ela está lá,falando decidida,sorrindo,é a conciliação perfeita,chego até a pensar que se Mariana estivesse à frente dos projetos de paz da ONU,todas as guerras e conflitos já teriam sido resolvidos.Na verdade,acho que eles só pensarão nos nomes daqui há uma hora,quando o decote,a saia,e as pernas de Mariana já terão dado um tempo em sua cabeça,quando não mais se poderá fazer objeções ou mudanças,ela é o golpe perfeito.
A reunião acaba e como sempre,após ser ovacionada por toda a sala,Mariana aguarda à porta e cumprimenta a todos da fila que se forma para tocar a musa da empresa,eu aguardo o último obcecado sair e a chamo em minha sala,ela sorri e me acompanha,lhe entrego os papéis de exoneração e os de posse.
- Então,por hoje é só,Ricardo.
- Sim,por hoje é só.
Caminhamos juntos até o elevador e nos encontramos com Dona Cida que também espera.Descemos pelo elevador calados,como dois estranhos que nunca se viram antes e,ao chegar no térreo,nos despedimos de Dona Cida e vamos em direção a portaria,já fora do prédio,se encontra parado o táxi que chamei,eu estendo minha mão,ela pega e me olha,nós dois apertamos com firmeza.
- Bom fim de semana Srtª. Calábria.
- Um ótimo fim de semana para todos nós,Sr. Santiago.
Um jovem rapaz acena para ela que,ao vê-lo solta rapidamente a minha mão,deve ser algum namorado.Eu entro no táxi e ainda vejo o abraço e o beijo com os quais sempre sonhei,eles se viram e dão-se os braços.
O que não sabe o tal rapaz é que vai de braços dados com o sonho de muita gente e o meu mais puro amor.
- Até segunda,querida Mari.
Allan Bonfim.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
A Última Dança Do Vereador
Vereador tava preocupado,se naquele dia tinha sido de morte jurado,na Terra seria o fim do seu mandato.
Me prestou um olhar safado,tal qual estes homens brutos,sem papo,indelicados.
Convidada por alguns chegados em uma mesa do outro lado,sentei.
Em sua mesa,reparei,nada de cerveja,somente uma valisa cheia,e dois ou três telefones,entre suas mãos nervosas e disformes.
Cabelo despenteado,as pregas no rosto enrugado,tudo demonstrava seu estado.
Tomei pena do homem findado,denunciado pelo Estado,julgado e condenado,inda sonhava ser deputado.
Testa franzida,o olho molhado,desinibida fui encará-lo,sua mão era fria,o convidei pra dançar.
Deixei que o resto acontecesse,só pra ver no que ia dar,não negou o interesse,e fomos á pista do bar.
E mão na bunda era pouco,se esfregava em meu corpo feito um louco,atraiu olhares indignados de um invejoso.
Não entendiam nada os jovens e idosos que olhavam da estrada,do lado de fora do bar.
Agora sorria à toa,alegria de menino no olhar,não entendia porque interessava à mulher tão boa.
Até queria me beijar a boca,relutei,tenha calma retardado,"não sou tua patroa".
Lhe beijei enfim e não foi tão mau assim,meio seco e molhado,doce e amargo,meio sem fim.
Borrou-me o batom,pedi "Chatterton" e fui ao banheiro,vi vereador me acenar ligeiro.
Retocando o vermelho,percebi que lá no meio,entre o balcão e a pista,algo acontecia.
Saí do banheiro e minha suspeita era real,caído no chão do bar,a sangrar e sangrar,afinal.
Ainda olhou-me e sorriu,passei por seu corpo,e assim como os outros,ignorei o Edil.
Um pivete inda apareceu e lhe tirou o dinheiro,jogou a carteira por sobre o peito escondendo o buraco certeiro.
Quando saí do bar,ele ainda estava lá,caído perto da mesa do canto,terno e gravata,todo baleado.
Tinha um olhar perdido e um pouco cansado,ao lado de um copo quebrado,e um celular que gritava,com defeito.
No ar,senti no silêncio o grito de "bem feito",à força bruta e com sangue derramado,enfim terminara seu mandato.
Allan Bonfim.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Lembrei da Casa Amarela
Me lembrei da beleza nos olhos molhados de um velho dono de bar falando de seu pai,pensei no meu velho,pensei na minha vida,minhas irmãs,meus medos secretos e os explícitos.Eu vi o garoto da bicicleta que gostava de vento e rodopiava no quintal,senti na boca o gosto do suco de manga,o gosto azedo de ameixa,o cansaço depois da correria à toa.A coca naquela manhã depois da ressaca num lugar cinza ao lado de Luana,e pensei na sua morte também.
Levantei a cabeça e tomei certeza daquilo que não quero acreditar e jamais me farão mudar de idéia,do quanto mudei e talvez ainda vou mudar,dos erros que cometi e não me arrependi,afinal me trouxeram até aqui,e onde é aqui?
Hoje lembrei do Maranhão,da menina do vestido velho,dos cachorros e gatos,das árvores e das estradas,e das caras da gente que não mais vi,como estarão hoje?
Me peguei com uma certeza única e exata,sei que,ao fim do dia,terei muito mais a escrever,a amar,a fazer.E já não me surpreendo com a tristeza,me disseram que a vida é cíclica e às vezes eu concordo.Jamais terei pena,jamais poderei voar,o que não diz se eu tenho asas ou não,sou na verdade,um anjo paralítico,e pra quê ser anjo? ...sou é um pobre diabo.
Eu enxerguei os preconceitos mais sujos nas pessoas mais limpas,ah,essa gente de "cabeça aberta" tem uma cuca tão dura.E falar em vovó,sempre sentada com seu "porrete".Não julgue as pessoas,elas realmente são meras crianças inocentes,por outro lado,as "crianças inocentes" são espertas criaturas dançando e se exibindo para a impunidade de ser pequeno e pronto.Tô pensando pra onde vai a lama,essa nossa.Os nossos gritos até onde alcançam,nossas vontades não realizadas,onde vão parar?
Eu quero mais,quero fazer crônicas,quero ser crônico,mas nem tanto,a gente quer sempre resolver tudo,ser algo perto do perfeito,ser "aquela Coca-Cola toda",mas eu ficaria satisfeito em somente ser aquele simples copo d'água que lhes quebra o galho e lhes causa o melhor sentimento do mundo,matar a sede,pois,amar é com vocês.
Allan Bonfim.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Lama Nas Ruas
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
O Poeta e O Malandro [FINAL]
Enquanto isso,o Malandro rodava pelos arredores da cidade dentro de um Ford com seu companheiro de aparte,mais malandro ainda.Durante a viagem,quase que interminável pelas ruas da cidade maravilhosa com o fim de despistar os homens sombrios,o Zé ficou sabendo de toda a história,ou pelo menos,a parte que lhe competia da história sobre Raimundo Star, (não falaram nada sobre padres,batinas ou estrangeiros) na verdade,Zé percebeu e/ou descobriu que haviam dois homens o seguindo a dois dias,estes,capangas de um grande contrabandista de bebidas que eram acionados toda vez que um fornecedor saía da linha,este seria Raimundo Star,de acordo com o Zé.
Franco e Epitáfio eram assassinos de aluguel contratados a menos de um ano pelo pessoal do tal contrabandista,faziam de tudo aqui pelo Brasil,matavam,seguiam,vigiavam e uma vez ou outra até contrabandeavam já que,naquela época,o contrabando de bebidas perdia força para o de cigarros e charutos.Sem sombra de dúvida tiveram uma infância fracassada e quiçá infeliz e viram enganadamente a "luz no fim do túnel" quando descobriram o negócio que dava dinheiro e não exigia nenhuma inteligência ou trabalho duro,apenas coragem e sangue frio.
O Malandro chegou ao apartamento às 18:37,e já era noite,e a noite era escura,e escuras eram as capas de Franco e Epitáfio que,escondidos entre os muros do prédio,se confundiam com a noite,os assassinos baratos tinham ali,o cenário perfeito para o que planejaram por toda a tarde,um assassinato,talvez se houvesse algo errado,até dois,não daria trabalho algum,colocariam no relatório e seriam devidamente,ou como se tratava de dinheiro sujo,seriam indevidamente pagos.A missão era simples,matar Star,levar sua arma,seu cordão e o dinheiro que ele havia desviado.Só tinha um problema,não sabiam eles que o homem que subia as escadas trajando um casaco,chapéu e um cordão de estrela,não era Star e sim o Malandro enganado por Star que contou a ele que jamais atirariam se pensassem que Zé fosse ele,pobre Malandro.
Pela mesma hora o Poeta descansava pelo Arpoador,ponto de encontro dos casais apaixonados na época,na verdade,procurava por Débora,e procurou por toda a cidade,mas não a encontrou,não naquele dia.
Débora esperava frente a porta do apartamento,após bater pela terceira vez já ia se virando para ir embora quando surgiu das escadas um sujeito esquisito de chapéu,casaco e um cordão de estrela com um material que imitava diamantes,era Zé.Ela lhe tirou o chapéu e deu um abraço apertado desses que recebemos de nossos amores quando ficamos muito tempo longe,o abraço durou pouco mais de 20 e poucos segundos,mas foi o bastante para que Franco e Epitáfio vissem a cena e tivessem a certeza de que aquele não era Star,pois,além de Zé não parecer em nada com Star sem o chapéu,todos sabiam que mulheres não eram bem o seu gosto,Zé adentrou o apartamento com Débora,os dois capangas permaneceram espreitando à porta.
Raimundo Star era esperto,enrolou Zé porquê sabia que,se pensassem que ele havia voltado,concerteza o seguiriam e ele avistaria os dois,dito e feito,arrancou com o carro pra Dom Pedro II,lugar onde marcou com Zé.É claro que sabia que,pelas circunstâncias,Zé jamais chegaria vivo até lá com o dinheiro,na verdade,Star já tinha marcado há dias atrás com um velho conhecido que conseguia passagens de trem,ele viajaria pra São Paulo,onde ficaria por um tempo até ser esquecido.Um táxi se aproximou e parou do outro lado da rua,piscou os faróis,Star então reparou no relógio e saiu do Ford pronto para pegar as passagens e se mandar,a porta o táxi se abriu,de dentro dele saíram duas pessoas que Star não esperava,seus olhos espantados flagraram o medo e a surpresa.
Jânio chegava em frente ao Green Pallace,desanimado,cansado e cheio de pensamentos em sua cabeça,pensava em Gabriela,pensava em seus pais,nos filhos que nunca teve,mas acredito que o que ele mais pensava era na ruiva e arrebatadora Débora Andrade.
Débora Andrade,mulher altiva e inteligente,fez tremer Raimundo quando saltou do táxi acompanhada de Zé.O bandido ficou parado observando a linda mulher e imaginando quem ela era,ficou imaginando como Zé teria escapado dos capangas.Ela fez uma festa com o pobre ladrão,disse que era da polícia,uma detetive,que o lugar estava cercado e exigiu que ele lhe entregasse a arma se não quisesse por fim levar um tiro,é claro que ele o fez.Imediatamente Débora agarrou a arma e saudou Star com toda a verdade,Zé lhe tomou o revólver e entre risos falava alto à Raimundo debochando da situação,Raimundo que tentou alguma reação,desistiu totalmente assim que viu no meio da escuridão surgir as silhuetas de mais duas pessoas,estas,Franco e Epitáfio que tinham um ar sorridente e macabro e na mão todo o dinheiro que,por Star,fora desviado.O problema estava todo resolvido,apesar de Zé não contar como Débora fez pra que os dois saíssem do apartamento com vida,os capangas tinham o dinheiro e Star,porém houve um impasse.
Franco e Epitáfio haviam sido ordenados a matar Star,recuperar o dinheiro,pegar o cordão e o revólver característico,foi aí que tudo desandou,pois o Malandro não quis entregar a arma temendo por sua vida e pela de Débora,Franco se irritou e sacou sua pistola,o Malandro jogou tudo pro alto e disparou contra Franco,Débora o agarrou e o puxou para dentro do táxi,Raimundo que era viado e não besta,correu como um louco e Epitáfio,na dúvida,disparou contra o táxi,Franco na agilidade e sede de sangue,acertou dois tiros em Star que caiu morto.
Zé gargalhava ofegante dentro do táxi,agradecendo à Débora que não sabia se lhe agradecia ou se brigava pelos tiros que ele deu,porém,aos poucos o Malandro parou de sorrir mas continuou ofegante,sua face mudou,algo em seu abdómen incomodava,ao olhar,Débora viu,era uma bala.
Franco e Epitáfio comemoravam no meio da rua,pois apesar de não terem o revólver,já tinham completado grande parte da missão,e afinal,depois poderiam pensar em recuperar,foi o que pensaram,pois logo as estridentes sirenes dos carros de polícia surpreenderam os dois que foram levados presos,souberam dias depois que a denúncia partiu das imediações da praça Dom Pedro II,por parte de um mendigo que fora procurado e pago por uma senhora ruiva horas antes do tal encontro.
Jânio já cochilava na poltrona com uma taça de vinho na mão,quando ouviu desesperadas batidas na porta de seu apartamento,imediatamente acordou por pensar se tratar de Débora,abriu a porta e tomou um susto,pois além se sua linda ruiva,se encontrava um homem ensanguentado que mais tarde percebeu ser o garçon falante do Copacabana's Bar.Débora sabia das habilidades médicas de Jânio que mesmo sem entender nada,cuidou de Zé e lhe retirou a bala e também o expulsou na tarde seguinte depois de saber toda a história.
O tempo passou,Poeta e Malandro compartilhavam a mesma poesia,a mesma malandragem,Débora Andrade,e ela definitivamente era a única coisa que eles dividiam,pois o Malandro se mudou para a Tijuca,saiu do Copacabana's Bar,o Poeta não era muito de frequentar o Clube Tropical,mas,quando se encontravam,era uma explosão nuclear,e olha que na época nem se tinha disso...o encontro que ficou marcado para sempre foi a batalha da Praça Do Xadrez,vindo da Lapa,o Malandro deu de cara com o Poeta que vinha de um festa não sei onde,os dois alterados pelo álcool embrenharam-se numa briga que parecia mais uma dança lengo-lengo,nem ao menos acertaram um soco sequer,o pessoal do Bar do Braga nem foi separar de tanto que riu,até que os dois caíram no chão e rolaram desordenados até caírem no sono (nem o Jânio,nem Zé confirmam esta história até hoje,mas eu vi),primeiro lá pras cinco acordou Zé,ajeitou o terno e foi pra casa,depois às seis e pouca,levantou Jânio que recuperou sua boina e foi tomar café no Braga.
Passaram-se 8 meses e não é que os dois se encontraram novamente,desta vez,estranhamente chegaram na mesma hora,como um encontro marcado,mas não se falaram,sentou cada um pro seu lado.Do bar eu ria junto com alguns amigos,olhavam para um lado e para o outro inquietamente,como se esperassem alguém ou algo,eis que surge um moleque,trajando sujo e com um bilhete na mão,eles,mais tarde disseram que o tal bilhete era de Débora,ficaram lá lendo e relendo o bilhetinho,pareciam meninos tristes,desolados,a mulher ruiva das belas curvas praticou a maldade de deixar dois corações apenas com um bilhete,que dizia: