sexta-feira, 27 de março de 2015

Saberemos

Porta fechada,paredes de vidro,gemidos roucos,suspiro desesperado,gritos loucos.Aqui é onde a luxúria se apresenta,e se deleita,e se lambusa de nós.
Curvas côncavas e convexas,pelos,os pequenos,pele,maciez,suor,e desejo desenfreado.
Veias pulsando,vontades implodindo deixando os danos,só os bons,hão de existir,deixam marcas de prazer,o torpor exagerado que embriaga e degenera.
Isso é PAIXÃO,minha amiga.

Allan Bonfim.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Inconvenientes IV

II. Baleiro - Diz-se do vendedor de balas.

Esperava sobre a plataforma,o trem das 14:37.Minha preferência dava-se porque,este,parava apenas em três estações até o destino final.
É então que surge o menino,o tal baleiro,e gritava assim:
- Bala balinha balão me dá um real q'eu ti dô um montão!
Pensei em perguntar se realmente ele vendia balões,mas ciente do desagrado que é ser sacaneado quando se está trabalhando,hesitei.
No lado oposto,descia pela escada do primeiro mezanino da plataforma,um grande ser, um senhor rechonchudo que trazia nas costas uma mochila que esforçava-se esticando as alças para não arrebentar,e na mão um pacote de biscoito,já resignado,sabendo de seu fim iminente.
O menino baleiro,que tinha o corpo magro e os próprios olhos da fome,quando fitou o pacote de biscoitos,teve uma certeza,foi amor a primeira vista,e ao olhar para o indivíduo que portava o pacote,imaginou que pelo seu tamanho,seu imenso tamanho,não iriam lhe fazer falta alguns biscoitos.
Já abordando o gigante,disse:
- Tio,me dá um biscoito aê !
O homem,com semblante tranquilo,olhou para o menino,olhou também para um lado e para o outro,abriu o pacote de biscoitos,lhe sorriu e,já com a boca cheia, respondeu farelante:
- NÃO !
O pobre baleiro saiu choroso,derrotado,como quem perde o trem das onze. Eu que observara toda a cena,apenas ri por dentro,não do menino,e sim do homem pois,no fundo eu sabia,aquele gordo ia para inferno.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Crime Solar

Que seja culpa do sol,que naquela tarde quente de janeiro,fez fundo pro seu rosto e me iludiu lhe dando ares de deus solar.
Seja culpa do sol,que não apareceu em outra ocasião e me fez deixar entrelaçar nos teus braços com frio.
Seja culpa do sol,que me faz suar e suspirar e me avermelha a face pra que você teça elogios baratos.
Seja culpa do sol,que sempre esteve muito perto do meu coração o aquecendo e esquecendo de fazer o mesmo com o seu.
Seja culpa do sol,que me faz sentir sede e devorar uma brahma e perder a classe e o juízo perto de você.
Seja culpa do sol,que naquela noite dormiu e deixou que você,na penumbra, fugisse de mim.
Que seja culpa do sol apenas,que não permite que você,como uma planta,possa reviver e voltar na próxima primavera só pra eu não precisar ficar acabada e sozinha numa praia qualquer sob a cruel e intensa luz do sol.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Inconvenientes III

II - A vida é Fogo.

No cruzamento da Pedro Corrêa com a Abelardo Bueno o sinal fechou.Ele observou o menino franzino que fazia malabares,duas tochas com duas pontas inflamadas em chamas cada,geravam um bonito espetáculo,se estivesse o menino no picadeiro do soleil mereceria ser aplaudido por toda a platéia de pé.
Mas a vida não lhe era nada espetacular,sua platéia observava-o apática e de vidros fechados,nenhuma moeda,nenhum aplauso,com a luz amarela do poste e os vidros escuros,não via nenhum rosto também.
Por pena e não por outra coisa,ele abaixou o vidro e serviu algumas moedas que estavam esquecidas em um dos porta-objetos e,na tentativa de alegrar o menino,inda soltou a infame piadoca:
- A vida é fogo,né?!
O sinal abriu e ele deu a partida,o menino recolheu-se a calçada esperando a deixa da luz vermelha para a próxima apresentação.

Allan Bonfim.

domingo, 1 de março de 2015

Columba Livia

Antes fosse um pombo...
Englobava toda a vida com pena e asas,a vida toda
Não passaria por nada do que passei,nadinha,eu Já estaria morta
Mas ainda assim seria um pombo,um morto pombo
Com uma vida pregressa de pombo,e só isso
Sem emoção !
Sem pensamento !
Sem paranóia !
Sem preconceito !
Sem aluguel !
Sem pedagogia !
Sem opressão social !
Sem grana !
Sem ódio !
Seria só rastro,fóssil,ou carcaça de animal,parte estatística de mortalidade da fauna silvestre
Plenamente útil a biologia
Antes fosse um pombo.

Jess Serafim.