domingo, 6 de dezembro de 2015

Boa sorte

Bom é saber que você seguiu,olhou,gostou,conheceu,assustou,amou,pariu,chorou,criou,enfim,seguiu.

Allan Bonfim.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Nós "dois pra lá"

A nossa dança é diferente de tudo que já se dançou,porque a nossa música nunca foi tocada mas a gente já escutou.
Os nossos passos são inéditos,nós nunca os executamos, fazemos eternos "nós" trançando nossos pés, nos esquentamos quando congelamos o olhar um no outro, e por enquanto, permanecemos unidos no "dois pra lá,dois pra cá".

Allan Bonfim.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Verdades

Não fosse eu assim menino,não fosse bem tratado, não fosse tão mimado, eu seria João.
Não fosse desesperado, seria mais correto, muito mais esperto, teria dado certo, seria Gabriel.
Fosse menos afobado, e muito menos crítico, respeitasse o ciclo e bancasse o cínico, seria eu, talvez um .
Fosse a vida mais fácil, e tivesse eu, tempo razoável, pra superar desgraça, não veria graça, seria eu Martinho.
De fato, podendo estar enganado, quero estar correto, seguindo embabacado pela certeza dessa vida, da qual sou fã. 
Ninguém na terra teria, ao meu cego olhar, o medo e a ousadia, e a maravilhosa sabedoria de ser assim, Allan.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Estamos Prontos?

Lá vai mais um trem azul,digo ônibus.Encanta pela sua rapidez,e confunde quem olha de relance,falo do BRT,Transporte Rápido por Ônibus na simples tradução para o português.
Um ônibus articulado que comporta 110 pessoas sentadas e,na teoria,60 em pé,tem também motor ecologicamente correto,se você se permitir colocar "motor" e "ecologicamente correto" na mesma frase,além de ar-condicionado e televisão.
Esse fenômeno consegue reduzir viagens simples em meia hora e, viagens longas em uma hora e meia,isso sem falar das estações "modulares" que são belas mas nada funcionais.
O BRT é o futuro do Rio,no momento,mostra como estamos preocupados com a mobilidade e preparados para o turismo.
Entre as dezenas de estações, uma chama a minha atenção,a Vicente de Carvalho,que permite a integração com o metrô.
Lá,temos aquelas passarelas lindas de concreto escovado que parece porcelana brilhante,com corrimões de alumínio e uma cobertura em acrílico que ziguezagueia sobre a Avenida ligando os dois serviços e cobrindo um mendigo que se abriga em um dos vãos entre a rampa e o chão.
O Mendigo é o passado do Rio,no momento,mostra como estamos preocupados com a mobilidade e bastante preparados para o turismo.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Saberemos

Porta fechada,paredes de vidro,gemidos roucos,suspiro desesperado,gritos loucos.Aqui é onde a luxúria se apresenta,e se deleita,e se lambusa de nós.
Curvas côncavas e convexas,pelos,os pequenos,pele,maciez,suor,e desejo desenfreado.
Veias pulsando,vontades implodindo deixando os danos,só os bons,hão de existir,deixam marcas de prazer,o torpor exagerado que embriaga e degenera.
Isso é PAIXÃO,minha amiga.

Allan Bonfim.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Inconvenientes IV

II. Baleiro - Diz-se do vendedor de balas.

Esperava sobre a plataforma,o trem das 14:37.Minha preferência dava-se porque,este,parava apenas em três estações até o destino final.
É então que surge o menino,o tal baleiro,e gritava assim:
- Bala balinha balão me dá um real q'eu ti dô um montão!
Pensei em perguntar se realmente ele vendia balões,mas ciente do desagrado que é ser sacaneado quando se está trabalhando,hesitei.
No lado oposto,descia pela escada do primeiro mezanino da plataforma,um grande ser, um senhor rechonchudo que trazia nas costas uma mochila que esforçava-se esticando as alças para não arrebentar,e na mão um pacote de biscoito,já resignado,sabendo de seu fim iminente.
O menino baleiro,que tinha o corpo magro e os próprios olhos da fome,quando fitou o pacote de biscoitos,teve uma certeza,foi amor a primeira vista,e ao olhar para o indivíduo que portava o pacote,imaginou que pelo seu tamanho,seu imenso tamanho,não iriam lhe fazer falta alguns biscoitos.
Já abordando o gigante,disse:
- Tio,me dá um biscoito aê !
O homem,com semblante tranquilo,olhou para o menino,olhou também para um lado e para o outro,abriu o pacote de biscoitos,lhe sorriu e,já com a boca cheia, respondeu farelante:
- NÃO !
O pobre baleiro saiu choroso,derrotado,como quem perde o trem das onze. Eu que observara toda a cena,apenas ri por dentro,não do menino,e sim do homem pois,no fundo eu sabia,aquele gordo ia para inferno.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Crime Solar

Que seja culpa do sol,que naquela tarde quente de janeiro,fez fundo pro seu rosto e me iludiu lhe dando ares de deus solar.
Seja culpa do sol,que não apareceu em outra ocasião e me fez deixar entrelaçar nos teus braços com frio.
Seja culpa do sol,que me faz suar e suspirar e me avermelha a face pra que você teça elogios baratos.
Seja culpa do sol,que sempre esteve muito perto do meu coração o aquecendo e esquecendo de fazer o mesmo com o seu.
Seja culpa do sol,que me faz sentir sede e devorar uma brahma e perder a classe e o juízo perto de você.
Seja culpa do sol,que naquela noite dormiu e deixou que você,na penumbra, fugisse de mim.
Que seja culpa do sol apenas,que não permite que você,como uma planta,possa reviver e voltar na próxima primavera só pra eu não precisar ficar acabada e sozinha numa praia qualquer sob a cruel e intensa luz do sol.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Inconvenientes III

II - A vida é Fogo.

No cruzamento da Pedro Corrêa com a Abelardo Bueno o sinal fechou.Ele observou o menino franzino que fazia malabares,duas tochas com duas pontas inflamadas em chamas cada,geravam um bonito espetáculo,se estivesse o menino no picadeiro do soleil mereceria ser aplaudido por toda a platéia de pé.
Mas a vida não lhe era nada espetacular,sua platéia observava-o apática e de vidros fechados,nenhuma moeda,nenhum aplauso,com a luz amarela do poste e os vidros escuros,não via nenhum rosto também.
Por pena e não por outra coisa,ele abaixou o vidro e serviu algumas moedas que estavam esquecidas em um dos porta-objetos e,na tentativa de alegrar o menino,inda soltou a infame piadoca:
- A vida é fogo,né?!
O sinal abriu e ele deu a partida,o menino recolheu-se a calçada esperando a deixa da luz vermelha para a próxima apresentação.

Allan Bonfim.

domingo, 1 de março de 2015

Columba Livia

Antes fosse um pombo...
Englobava toda a vida com pena e asas,a vida toda
Não passaria por nada do que passei,nadinha,eu Já estaria morta
Mas ainda assim seria um pombo,um morto pombo
Com uma vida pregressa de pombo,e só isso
Sem emoção !
Sem pensamento !
Sem paranóia !
Sem preconceito !
Sem aluguel !
Sem pedagogia !
Sem opressão social !
Sem grana !
Sem ódio !
Seria só rastro,fóssil,ou carcaça de animal,parte estatística de mortalidade da fauna silvestre
Plenamente útil a biologia
Antes fosse um pombo.

Jess Serafim.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Inconvenientes II

II. O corpo que cai.

Todos os dias,por volta das onze e meia,eu chegava na mesma mesa da mesma praça de alimentação do mesmo shopping para almoçar,isso faz tempo,foi antes desse tal lugar se deixar levar por incêndios misteriosos e devastadores.Mas isso é um outro conto que por vir está.
Num desses dias,enquanto fingia não saber e escolher o que devoraria,me deparei com o que chamo de "liberalismo burro", política aplicada por muitos pais em nosso belo país.
Aparecia a mãe na velocidade da escada rolante e ,aos poucos, surgiu o filho que aparentava dois anos de nascido,solto,solo e serelepe,saiu da escada caminhando em trote tal como o bêbado que cai,e caiu.Tudo muito normal pra quem aprendendo a andar está,ele ciente,nem choro deu e até sorriso ensaiou enquanto tentava levantar.Abanou-se no chão como quem desbrava esses lados obscuros do mar,eu iria prestar ajuda ao toco de ser mas o riso tomara o controle deste que vos fala,e como ri,gargalhei como a tempos não o fazia,como foi bom,o anjinho sem asa veio para me alegrar.
A mãe lhe puxou e encarou-me com a face fechada,confundia indignação e vergonha,outros populares prestaram um olhar sério,corretivo,mas sabia eu que estavam com um desejo enorme de rir.
A comida chegou,já recomposto,ajeitei o corpo no assento e fiquei lá esperando a próxima desnaturada e seu filho babaca.

Allan Bonfim.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Inconvenientes

I - Velha crônica da mulher traída.

Passa pela porta de entrada,e depara-se com a referida Amélia o aguardando no sofá.Sonolenta,ela o encara,sorri e pergunta:
- Tá com fome,amor? Quer q'eu esquente a comida? 
Ele responde:
- Não precisa,querida,comi na rua! 

E ao longo das décadas, dos séculos e milênios fica constatado que "uma comida" dificilmente terá o mesmo significado para canalhas e donzelas.

Allan Bonfim.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Tua Carta

Sei o nome do que sinto,mas seu nome desconheço.Sei da dor,da alegria e do prazer da intimidade,mas como será convosco?
Desculpa,é que fico olhando as palavras que você escreve,pensando naquilo que teu texto produz e,do nada,alguma coisa meio louca me arrebata e fica ecoando ao ouvido enquanto flutuo num ar estranho,tem cheiro de coisa que já vivi e que temo viver novamente.Mas talvez,eu penso,com você possa ser diferente,possa ser algo celestial se você for,e executar,trinta por cento do que escreve.De minha parte,posso garantir-lhe uma grande colaboração pois anseio por felicidade,expressa,pra viagem,pra vida inteira e às vezes imagino a gente de mão dada,fazendo idiotices de casal,fazendo inveja até nos outros porquê nosso amor será lindo,será intenso,tal qual todos que já vivi e viverei e quiçá muito melhor.
Mas por agora,enquanto não compartilho com você o que quero compartilhar com você,fico somente a lhe admirar,no silêncio,no escuro,aguardando a coragem que poderá fazer gritar o coração e trazer sua luz para perto de mim.

Allan Bonfim.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Em tempo

Nem toda água do mundo
Nem um grito estridente e agudo
Nem a pompa de Dom Pedro II.

Nem a farpa no dedo furado
Nem a lágrima no rosto molhado
Nem o cavalo branco e alado.

Nem o estômago doido de fome
Nem o beijo entre dois homens
Nem o preço do teu headfone.

Nem o óculos da tua amiga
Nem a forma da tua barriga
Nem a força incomum da formiga.

Nem todo o ouro do tesouro
Nem o barulho do seu choro
Nem a alegria do cachorro.

Nem a vida como ela é
Nem a beleza inata da mulher
Nem o desenho do profeta Maomé.

Não fará a Terra menos esquisita
Nem a tornará muito mais bonita
Se a mudança não começar por VOCÊ !

Allan Bonfim.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Je suis Charlie

   Não me admira a violência
   A maldade é precisa,
   Pois dilacera a camisa 
   E fere onde dói.
   
   Não me admira a notícia
   Eu visto a camisa,
   Propago a palavra
   E compartilho a dor.

   Não me admira a tristeza
   O cartoon sobre a mesa
   Denuncia sem medo
   Com doída beleza 

   Não me admira a covardia
   Fica marcado como o dia
   Em que a ira sobressaiu  à alegria,
   E a liberdade sucumbiu ao terror.

Allan Bonfim.