domingo, 25 de julho de 2010

O Poeta e O Malandro Cap. 1

Pelos tempos que morei no extinto hotel Republic em Copacabana,observei uma dupla um tanto quanto curiosa,que vivia entre a Costa e Silva e a Manoel Barros,ruas bem badaladas na época.Essa badalação não era a toa,numa esquina dessas ruas localizava-se o Clube Tropical,tal clube era frequentado por grandes nomes do rádio e do cinema,além de tietes que lotavam a portaria atrás de um casamento ou uma simples aventura.Confesso que por algumas noites adentrei o recinto que tinha salsa,bolero,samba e tchá-tchá-tchá,mas isso não é sobre o Clube Tropical,é sobre O Poeta e O Malandro.
Jânio Bonifácio era formado doutor em Medicina pela Universidade do Rio De Janeiro,hoje,Universidade do Brasil ou UFRJ,porém pouco utilizou sua formação como trabalho pois sua paixão estava mesmo nas letras,ou melhor,nas palavras que estas compunham,foi então que se formou em Literatura e a partir daí não parou mais,primeiro foi colunista de um jornal muito lido na época,depois passou a publicar nesse mesmo jornal poemetos e poesias de sua própria autoria mas que assinava com o pseudônimo de Janini.Na época em que trabalhou no jornal conheceu Gabriela com quem viveu os vinte anos mais felizes de sua vida.Os poemas de Janini fizeram tanto sucesso que eram recitados em intervalos de um famoso programa de rádio daquela época,o locutor ao convidar o poeta a se apresentar na rádio ficou surpreso ao ver que Janini era homem.Ao se mostrar para o mundo Janini sempre fora convidado para as mais belas festas com astros do cinema e belas vozes do rádio,foi em uma dessas festas que Janini ganhou o apelido de "O Poeta".Foi convidado pela editora Casa Azul a publicar seus poemas em livros,e a empreitada deu certo,foi um sucesso de vendas em quase todas as edições,Janini tratava de temas cotidianos com extrema leveza e harmonia,foram muito os livros que seguiram com sua assinatura até ser reconhecido em Paris e ter sua obra divulgada lá.Um de seus livros mais lidos foi "Gabriela,a menina do jornal do dia seguinte",um livro que ele escreveu anos depois de seu grande amor falecer.
Mesmo com muito dinheiro Jânio sempre foi muito humilde,apesar de ter sido concebido em uma família bem rica,saiu do apartamento que,lhe foi dado pelo pai em recompensa a formação em medicina,se localizava em Ipanema,mudando-se para um de tamanho reduzido,porém,que supria exatamente suas necessidades,alguns acham que um dos motivos da mudança fora que o antigo apartamento lhe trazia lembranças de Gabriela,este ficava no edifício Green Pallace,número 2567,era um edifício de 22 andares na Rua Manoel Barros que tinha na sua fachada pedrinhas de cor esverdeada que quando rebatiam a luz solar reluziam feito diamantes,o apartamento de Jânio tinha,como todos,sua varanda para a rua,onde ele passava suas noites depois de escrever ou somente observar o dia inteiro na calçada.
José Silva Ferreira tinha seu currículo escolar encerrado no 3º ano do ginasial,atual 9º ano do ensino fundamental,trabalhava em um bar-restaurante na Rua Costa e Silva,que era frequentado de dia,por jornalistas e executivos das redondezas e a noite por bôemios e sujeitos ricos com suas putas de aluguel.No alto de seus 21 anos levava uma boa vida e dividia um apartamento em Ipanema com um amigo que mais tarde iria lhe trazer problemas.
Sua vida na infância foi como a de muitos brasileiros,família pobre,casa simples e pais trabalhadores,apesar de ter largado cedo a escola possuía um inteligente desenrolar de língua,qualquer um que não o conhecesse diria facilmente que se tratava de um locutor de rádio,ou até um doutor não sei de quê,o fato é que isso lhe ajudava bastante em seu trabalho,os clientes do lugar gostavam do garçom simpático que lhes servia drinques tagarelando sem parar,sabia um pouco de tudo,moda,cinema,literatura,discoteca e praia,tudo que um garçom de um bar-restaurante em copa precisava saber.
À noite José saía pra se divertir,rodava por toda a parte boêmia da cidade conhecia os melhores bares,botecos e discotecas,mas tinha preferência,andava muito pela Lapa,dizem até que o apelido de "O Malandro" foi lhe dado lá,mas,além disso era ali onde conhecia a maioria de suas jovens e enxutas companhias de alguns meses,de semanas,de dias,mas gostava mesmo era do Clube Tropical,onde era o "rei da pista",não havia menininha que não olhasse quando gritavam "O Malandro chegou" e apesar de sempre estar cercado por belas mulheres era um solitário,e não que não gostasse,na verdade,acreditava que sempre se deu bem com todas as mulheres justamente por não ter compromisso com nenhuma,foi então que conheceu Débora.
Jânio passava os dias na calçada de sua casa e,de vez enquando,enquanto procurava conteúdo para seus poemas e poesias,passeava pela praia ou pelos bares nos arredores,um de seus preferidos era o Copacabana's BAR,onde Zé Ferreira trabalhava.Por ser sozinho desde que sua mulher morrera,gostava do contato com gente fosse apenas por um olhar ou por palavras,e palavras Zé Ferreira tinha de sobra.Ficava ali sentado na mesa do canto observando o Zé falando e gesticulando,contando seus 'causos' para os outros clientes que riam como desesperados,alguns acreditando nas histórias,outros achando que ele não passava de um malandro.Ao terminar sua sobremesa Jânio se levantava e com sua boina marron saía lentamente do recinto,seus 63 anos lhe gritavam,mas sua aparência era galante e tinha lá uma bela 'persona'.Sempre foi conhecido pelas redondezas como um sujeito simpático porém misantrópico,pois não era de sair a noite e não fora visto sequer uma vez com amigos ou algo parecido,seu plano era viver em rotina,esperando que a morte o alcançasse e ele pudesse finalmente encontrar Gabriela,foi então que conheceu Débora.
Zé Ferreira dividia o apartamento com um amigo de nome Raimundo Star,que diziam ter esse nome da época que dava o rabo lá pelos lados da Dom Pedro II,hoje Central do Brasil,diziam também que além de bicheiro o cara era metido com contrabando de bebidas mas Zé nunca deu ouvidos,aliás Star nunca deixou de pagar o aluguel e ainda lhe emprestava algum se Zé não tinha dinheiro pra noite.A vida de Zé era 'como queira',pegava às 11:00 no Copacabana's BAR e saía dependendo do movimento às 19:30,aí enfim sua noite começava,e foi numa dessas noites que lhe apresentaram a Débora,um belo par de pernas e coxas,com o bumbum roliço e uma equilibrada silhueta,seios medianos,pescoço longo,cabelos ruivos e olhos castanhos que te faziam sentir culpado por não conhecer aquela dádiva antes.E Zé logo levou Débora e pôs-se a redimir sua culpa em seu apartamento,quando acordou,apenas parecia que transara só a noite inteira,ela não deixou cheiro,não deixou marca alguma.
Um dia,Jânio me disse que caminhou até a sacada e sentiu uma beleza especial no dia que ia nascendo,besteira de poeta,aquele dia foi a mesma merda,foi o dia em que Jânio conheceu Débora.Após o café da manhã ele sentou-se à calçada e começou a escrever,quando chegou a hora do almoço foi para o Copacabana's BAR,sentou-se na mesa do canto e então uma mulher apresentando-se como grande admiradora de seus versos,perguntou se poderia se sentar,ele concordou apesar de não gostar de incômodo quando comia,na verdade,acho que concordou porque ela tinha um belo par de pernas e coxas,um bumbum roliço e uma equilibrada silhueta,seios medianos,pescoço longo,cabelos ruivos e olhos castanhos que te faziam sentir culpado por não conhecer aquela dádiva antes.Ela falava de seus versos,dizia que os ouviu pela primeira vez no rádio de seu carro,ela dizia também obscenidades que confundiam sobre sua personalidade,definitivamente não era o tipo do velho,mas eles andaram juntos pela praia,e subiram juntos pela portaria do edifício de pedrinhas verdes.

...continua

Allan Bonfim.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vem Cá (Arnaldo Antunes;Carlinhos Brown;Marisa Monte)

vem cá
não quero confusão
vamos lá pra fora
longe do portão
cuidado,
olha meu irmão
ele tá ligado,
aqui não dá não
vem cá,
em casa não dá pra ficar
vamos pra
outro lugar
onde a gente possa
se dar, fumar e aumentar o som
gritar, vai ser muito bom
sem hora para acabar
pirar debaixo do edredon
pintar e borrar baton
sem medo de alguém chegar
vem cá, vem cá
vem cá, vamos lá

vem cá,
não quero confusão
vamos lá pra fora
longe do portão
cuidado,
preste
atenção
o campo tá minado
aqui não dá não
vem cá,
em casa não da pra ficar
vamos pra outro lugar
onde a gente possa
se dar, fumar e aumentar o som
gritar, vai ser muito bom
sem hora para acabar
pirar debaixo do cobertor
amar e fazer amor

sem medo de alguém chegar

vem cá,vem cá,vem cá

VAMOS LÁ !


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Bye,bye Brazil,the South Africa said

Aqui acaba o sonho,que já não é aquele de tempos atrás,digo sem preciosismo,sem demagogia.Acaba aqui a felicidade dos oprimidos,dos privilegiados e dos sem posição definida,acabaram-se as folgas de meio período,as aulas interditadas em dias de jogos,acabaram as oportunidades,às vezes raras,de família reunida,de vizinhança reunida,de união,né? Acabou mais uma esperança daquela bem a cara do brasileiro,de acreditar em coisas impossíveis,no inacreditável,é que se torna tão bonito o voo a uma certa altura,que a gente pensa que pode voar só,todo o resto,não que não tenhamos as asas,só ainda não aprendemos a usá-las direito,aí vem essas quedas estrondosas,que nos escangalham,que nos fazem chorar,xingar.
Acaba-se aqui o trabalho de 4 anos de uma instituição "integra e séria",que mede um povo todo em siglas,três letras que não são o bastante pra dizer,pra contar tudo desse povo.Acabou o "comando" de mais um traumatizado,bode-expiatório em alguns anos atrás,acabou a 'Era Dunga' mais uma vez.
Mas por aqui fica também a minha confiança no único e simples fator que pode decidir o futebol,a imprevisibilidade gerada pelo próprio futebol,porque hoje não tem Ronaldo pra se 'criar' uma crise,não tem Zidane algum pra chamar de carrasco,Teve até um tal de Sneijder,mas não me faça acreditar que perdemos por causa assim,claro que não,há algo por trás de tudo isso,e não me surpreenderia se a Holanda levantasse os homenzinhos que seguram o mundo esse ano.
Acabou o jeito pra disfarçar,agora se nota no sorriso do gol perdido,e no outro sorriso,este do gol tomado,na certeza plena do real resultado final.Ficou por aqui minha confiança na honestidade do sistema FIFA,depois de tantos "erros" não corrigidos.
Acaba a alegria de comemorar um gol na certeza de que foi feito na habilidade,na pintura,na beleza,mas sobretudo,entre todos os impecílios,na honestidade,não mais vejo possível uma nova aparição do admirável Sobrenatural de Almeida,saberei que,caso apareça algo semelhante a ele,será,seu irmão trambiqueiro,o Combinado de Almeida.
Ai,como é triste isso,mas deixa,agora aqui acaba a tristeza também,me lembrei que ainda sou Rubro-negro,acima de tudo,e mesmo com poucas razões pra sorrir,inda vejo o resto do ano pra torcer e acreditar,acreditar,eu nem queria escrever isso,mas já que me veio,me valeu.

Vaarwel Brazil !!!

Allan Bonfim.