quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Perfeita

A mulher perfeita pra mim,me cobraram os amigos da mesa de um bar...fiquei sem resposta,tornaram a cobrar,não soube o que falar.Seria fácil levantar cartaz de belas pernas e coxas,cabelos loiros,vermelhos ou negros,silhueta de viola e coisa e tal.Mas não seria verdadeiro,sincero,muito menos real.O caso é que,com a bebida e o ambiente,acabei numa situação delicada,pois se digo que a mulher perfeita pra mim seria qualquer uma que viesse e me aceitasse,me cuidasse e fosse plena nos desejos particulares e conjuntos,bom,aí concerteza eu seria motivo de piada e risadas pelo resto da noite e,quiçá,por toda a madrugada.O fato é que não se diz coisas assim,de peito aberto,por lá,a não ser que esteja sóbrio pra ter alguma credibilidade e/ou possibilidade para defender sua idéia,mas eu sei que...
A mulher perfeita virá pela rua distraída,
com vestido solto ou calça jeans,
ouvindo a 90,3 e observando os meninos que jogam bola.
A mulher perfeita talvez acorde cedo,mas só talvez,
acredito que ela acorde lá pro meio-dia e almoce com cara de café da manhã.
A mulher perfeita trabalha e estuda,e dança,e se diverte,e sorri,
e dá conta de tudo isso de uma forma que me deixa boquiaberto.
Ela nem sonha com o amor ou algo parecido,acho que nem acredita,
ou é só tristeza passada,vou mudar isso...
Ela odeia animais de estimação,gosta mesmo é dos selvagens,
o tigre feroz e violento,o pássaro arisco,o porco espinho...e tem coisa mais bonita do que o cachorro-do-mato rolando no mato?
Ela é assim,meio branca,morena,negra e amarela e tem o riso engraçado.
A mulher perfeita aparece sempre por aí,por aqui,por acolá e me faz ter certeza de uma coisa:
Quando a gente se encontrar,a primeira coisa que faremos é dar as mãos e viajar sem mapa,nem bagagem,só pra encontrar aquele lugar que ninguém encontrou,a Casa dos Sonhos,na Cidade do Amor,Número 7 da Avenida Felicidade.



Allan Bonfim.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Profundo

Não liguem,os bestas apaixonados,para as palavras que vão ler,são coisas de um coração amargo,é só um modo de ver,é visão de um vagabundo sem razão de ser,sujeito de sorriso largo e olhar moribundo,é ferida no peito aberto,é corte profundo.
É que hoje,senhores,percebi que o amor é navalha,maçarico,medo de alma-penada,garrafa de vidro quebrada,suicídio,novela mau acabada,nível crítico,é o "eu te amo" com eco no nada,é procurar o fim do mundo,revólver com bala engasgada,queda em buraco profundo.
Me puxou pra dançar e bandou,senti e entendi o marido traído,a mulher abandonada,o doce caído e a criança desesperada,o partideiro falecido e o samba na madrugada,o burro que vaga perdido,o tio querido morto lá perto de casa,o olhar da mãe reprimindo o filho,o ônibus partindo e o cansaço do moço que correu até a praça,o sorriso das senhoras que olham o bêbado falido,o gemido que tú dá quando vem e me abraça,quando vem e me abraça e eu fico mudo,algo tem a ver com um sentimento profundo.
E é tão fundo que não se cai no chão,algo feito manteiga sem pão,fruteira sem uva,bossa sem violão,puteiro sem puta,menino bobão,gente bruta,mês de Junho sem "São João" e a festa agostina sem "caipifruta",canoa à deriva no Ribeirão,engarrafamento em dia de chuva,é algo abstrato no meio da rua,no meia da rua vez em quando tropeço e derrubo tudo,me lembro de você,sim,é profundo.
Ando para lá e para cá e não me esqueço dela,vou até a janela,guardo o meu rancor,lembro da faixa amarela que bordou o meu avô,sol me encara pela fresta,me faz sentir calor,repouso na cadeira que é dela,ligo o ventilador,ouço passos na varandela,surpreso não estou,só pode ser Gabriela...perdoo o seu vacilo com o tal doutor,e mesmo estando eu todo fodido,me abraça e me beija com o mesmo sorriso.
Caído,perdido,nu e quase morto de dor,ri e percebi o quão profundo é o amor.


Allan Bonfim.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Do corredor

Os sorrisos,as fofocas e os entreolhares entre meninos e meninas,alguns desconhecidos,outros brigados e alguns outros enamorados.
Os segredos ao pé d'ouvido,os risos debochados,envergonhados,alegres,e os rostos cansados e enfadonhos,todos vagabundos.
Os bilhetinhos e os gestos,as caretas e imitações,coisinhas de criança sapeca e o sono que chega nos corpos imóveis.
A voz arrastada d'uma professora,d'uma disciplina chata qualquer,suas manias e suas frustrações mais íntimas,tudo...tudo se abafa quando a porta se fecha.

Allan Bonfim.