segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Castelo de cartas

Não havia nada escrito,depois,de forma repente,algumas letras invadiram o espaço em branco.
Não por acaso, se alinhando,dando as mãos e até abraçando-se,elas fizeram sentido.
Não por acaso,nem poesia,alguém pôs ali,era o contrário de poesia,era vontade.
Isso era forçado,tinha objetivo,era artificial.
Pois poesia é natural,é essência de uma natureza bela,é cadência literária.
Não é só folha de papel que cede espaço em branco.
Reverberar,parece até poético,mas é político e política reverbera discursos falsos,e firmes,de uma natureza feia,com aspectos de uma coisa morta que pulsa cada vez mais forte,o contrário de poesia.
Então,fez-se o resultado e divulgou-se,pois este era um dos objetivos,não se divagou sobre,pois divagar é poesia e poesia não interessa.
Não por acaso,as palavras iam retirando-se,deixando só uma ideia,de repente cessaram.
O objetivo foi conquistado,se fosse poesia mereceria um Jabuti.
Agora era só esperar.

Allan Bonfim.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Bailarina


Deitada no chão, lembra bem uma península ou rastro de costa qualquer. Observa o teto e, com o olhar fixado parece querer engolir o reboco.
Estica membros e se observa, não chega a nenhuma conclusão de existência ou missão. Ergue as unhas, que são garras, mas não ataca, é como se exibisse ou apenas certificasse que tudo continua no lugar, pronto para o espetáculo. É então que inicia-se: rola o corpo pelo piso e vai deixando suas marcas, seus fluídos, seu cheiro, sua essência.
Num ante desfecho dramático, levanta o pescoço com indescritível elegância exibindo o olhar rompante e assombroso, tem os olhos do demônio. Aí então salta sobre a mesa, gozando d'um equilíbrio que só a bailarina dispõe, deita sem propagar som algum e acomoda sua cauda espalhando-se na face de madeira como fosse água, e tão bonita, é tão completa, é gata.

 

Allan Bonfim.